terça-feira, 13 de abril de 2010

O Espírito Santo que habita em nós

A teologia cristã afirma que esse Espírito que foi derramado em Pentecostes, que convoca a Igreja e a conduz, que recria e transfigura toda a criação, conduzindo-a a sua plenitude, habita em nós. A experiência do Espírito Santo, ou seja a inhabitação do Espírito recria a pessoa humana por dentro, desde seu fundo mais profundo.

a. A primeira característica dessa inhabitação é o fato que o Espírito Santo provoca na pessoa um “êxodo, uma saída de si mesmo”, um desejo e uma necessidade de arrancar-se de si mesmo, assim fazendo, o Espírito Santo está integrando o ser humano no próprio movimento quenótico, de auto-esvaziamento da Trindade que vem em direção à humanidade para levar a cabo seu desígnio de salvação. Na antropologia, então, reproduz-se o êxodo do Verbo (cf. Fl 2,5-11). Reproduz-se, também o êxodo do próprio Espírito que é enviado constantemente pelo Pai e pelo Filho, outro Paráclito que tem a missão de recordar e rememorar as palavras ditas por Jesus de Nazaré e conduzir seus ouvintes a toda a verdade (cf. Jo 16,13; 14,26; 15,26).


b. O Espírito, portanto, altera o espaço interior e exterior dos seres humanos. Sua experiência implica para o ser humano viver no espaço do outro e admitir que o outro viva em seu próprio espaço. Pela evangelização, o Espírito arranca o ser humano de si mesmo para situá-lo em Cristo e possibilitar-lhe a descoberta e a vivência de uma nova comunhão no Corpo de Cristo, na comunidade.


c. O Espírito altera também a categoria tempo. Para aquele ou aquela em quem o Espírito Santo habita, o tempo não é mais um tempo linear (Kronos), mas um Kairós (tempo de Deus), que encontra só em Deus sua unidade de medida. Por isso, as coisas não mais podem ser medidas com os parâmetros temporais de antes. É o Espírito que realiza e atesta todo esse novo, essas coisas tornadas novas, fazendo de todos novas criaturas, crianças novas, ainda que o ser humano exterior envelheça e esteja submetido à erosão do tempo.


d. O Espírito altera também a categoria da norma. O ser humano precisa e deseja normas. Não tem vocação para a anomia nem para a anarquia. Existe, sim, uma norma para aqueles em quem o Espírito habita, para aqueles que estão em Cristo: a liberdade proveniente do amor.


e. Alterados o espaço, o tempo e a norma antropológica, o Espírito altera também a forma humana. Trata-se, portanto, de uma verdadeira transformação, metamorfose que é realizada no ser humano e que vai, ao mesmo tempo, dando-lhe nova configuração. A transformação que a inhabitação do Espírito Santo realiza na pessoa é, portanto, na verdade, uma “con-formação”. Sendo transformado pelo Espírito de vida e santidade, o cristão vai sendo cada vez mais con-formado a Jesus Cristo. De modo que não seja mais o cristão que vive, mas é o próprio Cristo que vive nele (cf. Gl 2,20).

Marcelo Parizotto 13/04/2010

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